A câmara de São José recebeu nesta terça-feira (27/4) representantes da secretaria de assistência social para discutir as ações durante a pandemia. O secretário, Lédio Coelho, destacou o problema de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e o aumento na busca por auxílio de alimentação. O encontro, no entanto, acabou se voltando principalmente às questões das pessoas em situação de rua em São José, com questionamentos dos vereadores e moradores da região, por meio das redes.
Demanda por assistência cresceu
Antes de abrir a conversa para vereadores e população que acompanhava pelas redes, a diretora Marla Sacco Martins explicou as ações da secretaria na pandemia, que se dividem entre as diretorias de proteção social básica, proteção especial de média complexidade e de alta complexidade. Na primeira ocorrem os atendimentos de serviço às famílias e convivência social por meio do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Na pandemia, desde abril de 2020, os cinco centros de São José fizeram 12.356 atendimentos, a maioria de pessoas em busca de auxílio para alimentação.
Nas outras diretorias, a assistência ocorre em situações em que há violação de direitos, como violências físicas, sexuais, abandono, trabalho infantil, discriminações e situações de rua, com atendimento nos dois Cras da cidade. Além disso, há acolhimento em instituições parceiras para mulheres, idosos, crianças e pessoas com deficiências em situação de violência ou abandono. Para as pessoas em situação de rua, há o trabalho do centro POP, que oferece auxílio com documentação, acesso ao mercado de trabalho, fortalecimento de vínculos familiares além de fornecer alimentação. A diretora destacou que em janeiro eram 20 marmitas entregues por dia, hoje é cerca de 60. Só em março foram realizados 563 cadastros no centro. Quando a pessoa não procura o local, há o serviço de abordagem nas ruas que leva o mesmo serviço, a exceção de alimentação e banho. Já o secretário esclareceu que há cerca de 300 pessoas em situação de rua em São José
Questionamentos
Os moradores que acompanhavam pelas redes e os vereadores focaram os questionamentos na atuação com as pessoas em situação de rua. O secretário explicou que o trabalho com essa população é diário, com abordagens para encaminhar para serviços de documentação, contato com a família, além de auxílio para ingresso no mercado de trabalho. O vereador Jair perguntou sobre o retorno dessa população para os municípios de origem. De acordo com Marla, do levantamento recente da secretaria, 42% da população de rua em São José não é do município, o restante é ou vive há mais de 10 anos na cidade. A assistência social faz o trabalho de contato com a família e município de origem e fornece passagens para o retorno da pessoa.
O vereador Cryslan trouxe a questão na população na Via Expressa, se referindo a área como “cracolândia”. O secretário destacou que lá é a região em que a secretaria tem maior dificuldade de atuação, já que há consumo de drogas e as pessoas não aceitam aproximação, sendo mais agressivas. Nesse caso, por segurança, ele aponta que as ações devem ser tomadas junto a outras secretarias. Quanto a possibilidade de internações compulsórias, como sugeriu o vereador Rodrigo Andrade, a diretora Marla afirma que a ação necessita de avaliações médicas o que cabe à área da saúde. Ela ainda aponta das 766 abordagens realizadas pela secretaria, 59% das pessoas se declararam dependentes químicos, principalmente de álcool e crack.
Já nas abordagens de pessoas em situação de rua em conjunto com a guarda municipal, ponto levantado pelo vereador Marcus Andrade, como as operações de choque realizadas no ano passado, a diretora informa que esse tipo de abordagem não se mostra efetiva para a assistência social. Ela ainda fala que a secretaria enfrenta alguns processos por fazer parte das abordagens, já que a assistência social trabalha com a garantia de direitos e não poderia participar das “abordagens mais incisivas, de maneira mais repressora”.
Na questão das pessoas que pedem dinheiro em sinaleiras, o vereador Mauro Fiscal questiona se há medidas legais que poderiam ser tomadas. O secretário responde que, em contato com o conselho tutelar, chegaram a casos de crianças nos semáforos da BR 282, que seriam de Palhoça. Para isso, eles estão em contato com o Cras e assistência social do município vizinho. Quanto a medidas legais, ele informa que a secretaria não tem poder de polícia e não podem retirar as pessoas dali se não há delito, por isso seria necessário ações com outras pastas.
Confira como foi a reunião
https://youtu.be/1x1qbNDgxFw
Em 4 de maio outra reunião pública deve discutir a questão das pessoas em situação de rua, com ações e encaminhamentos em conjunto com outros atores, como a secretaria de segurança pública e assistência social.
Por Ana Ritti – redacao@correiosc.com.br