Áudios obtidos pelos veículos de imprensa NSC e ND lançam luz sobre a Operação Presságio, que investiga esquemas de corrupção na Prefeitura de Florianópolis durante a gestão de Gean Loureiro. A investigação iniciou sobre o primeiro contrato terceirizado de coleta de lixo em Florianópolis e acabou descobrindo mais supostas irregularidades, com o ex-secretário Edmilson Pereira como pivô.
Os diálogos, mencionados na representação policial apresentada à justiça após a primeira fase, abordam supostos desvios de verbas destinadas a eventos esportivos. As novas informações vieram à tona nessa semana com a renovação do afastamento de ex-secretários investigados.
Os registros, provenientes do celular de Renê Raul Justino, ex-diretor de Cultura da Fundação Franklin Cascaes, vinculada à Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes da Capital, mostram uma negociação para distribuição irregular de recursos destinados a eventos esportivos. Em um dos áudios, Renê discute a prática de desviar parte dos valores para o então secretário Ed Pereira, visando liquidar dívidas de campanha.
“O Ed ia precisar em torno de uns 60, 70 pau. Tá ligado? Esse é o grande lance dele. Isso limpo, né? Então qual era o grande lance do evento? Fazer o evento entre 150 e 120 pila. (…) Vamos supor que é 150: 75 pra realização do evento, 75 pro Ed”.
Outro ponto destacado nas conversas é um estacionamento ilegal montado durante a Festa Nacional da Ostra (Fenaostra), em novembro do ano passado. Os áudios revelam a abordagem da Polícia Militar sobre a cobrança indevida aos motoristas e sua possível conexão com o grupo de Ed Pereira e Renê.
A defesa de Ed Pereira e Samantha Santos Brose, esposa do ex-secretário, também se pronunciou, informando que o material apreendido está em análise preliminar e acreditando que, no momento oportuno, a inocência do casal será evidenciada. A defesa de Renê contrapõe que as conversas ainda não foram oficialmente apresentadas nos autos, impossibilitando comentários sobre sua autenticidade neste momento.
Repasses suspeitos durante anos
Além disso, a Operação Presságio revela que prestações de contas incompletas da Fundação Municipal de Esportes da Prefeitura de Florianópolis alcançam um montante em suspeição de até R$ 26,8 milhões. As informações foram publicadas pelo repórter Lúcio Lambranho, em matéria especial para o ND nesta quinta-feira (22/2), a partir de uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado. Segundo o órgão houve uma manipulação indevida das prestações de contas entre 2017 e 2022.
A administração municipal também sabe dos problemas nos repasses aos eventos esportivos, tanto que instaurou uma auditoria municipal em maio de 2023, encontrando as irregularidades que teriam facilitado os desvios de dinheiro público.
Segundo a matéria, a auditoria foi concluída em novembro de 23 pela corregedoria-geral do município e apontou que os desvios de dinheiro público da cidade beneficiaram Ed Pereira e sua mulher, além de mais três servidores comissionais, outros três parentes de funcionários e o envolvimento do Instituto Bem Possível. Os valores, porém, podem ser ainda maiores, uma vez que repasses do ano passado não teriam sido ainda analisados.
Segundo a prefeitura, o Núcleo Anticorrupção detectou suspeitas de irregularidades em prestações de contas de projetos esportivos comunitários patrocinados pela própria prefeitura o que motivou a suspensão de todas as renovações desses projetos esportivos – cerca de 70, afetando as crianças que eram beneficiadas com o trabalho. “Não foi uma decisão fácil, pois há muitos projetos sérios e milhares de crianças envolvidas. Na época, os meios de comunicação noticiaram amplamente a pressão e insatisfação das escolinhas atendidas”, comentou textualmente o prefeito Topázio Neto nessa quarta-feira (21/2).
Além da suspensão, a Prefeitura tomou duas outras providências imediatas: primeiro, oficializou uma série de questionamentos à Secretaria de Esportes, bem como às entidades atendidas. Segundo, transferiu o gerenciamento dos programas para outra secretaria, a Secretaria de Assistência Social. “Após ampla investigação interna, comunicamos à Polícia Civil tudo o que já havíamos apurado”, disse o Controlador Geral da Prefeitura Municipal, Rodrigo De Bona.
A auditoria interna encontra-se em fase final, sendo acompanhada pela Polícia Civil, segundo a prefeitura da capital.
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