Ponte Hercílio Luz é reaberta depois de 28 anos interditada e 13 em reforma

    fuscas e outros carros antigos passando sobre a ponte Hercílio Luz com pessoas em volta
    Desfile de carros antigos nesta segunda (30) foi o primeiro evento da semana de reabertura da Ponte Hercílio Luz - Lucas Cervenka/CSC

    A Ponte Hercílio Luz foi oficialmente reinaugurada nesta segunda-feira (30/12), às 10h. Um simbólico desfile de carros antigos, muitos dos quais que já haviam passado na estrutura, foi o cortejo inicial. A programação de reabertura segue durante toda a semana, até 5 de janeiro.

    Chamada inicialmente durante a construção de Ponte da Independência, e finalizada em 1926, a Hercílio Luz ainda tem muito a oferecer para Florianópolis, a região metropolitana e o estado, em termos de mobilidade, turismo, estudos de engenharia, política e história e patrimônio arquitetônico. Mais do que uma bela obra de engenharia, a ponte marca diversos aspectos da gestão pública e das necessidades da população.

    A ponte está no contexto do que são boas e más decisões de administração pública. Foi criada para ligar de fato a capital ao estado. Ao longo dos anos, especialmente após o primeiro fechamento, em 1982, muito desperdício de dinheiro – em valores atualizados, hoje a calcula-se o custa da Ponte Hercílio Luz em mais de R$ 688 milhões. Somente nesta reforma definitiva foram gastos R$ 474 milhões, no contrato referente a 2014, mas a recuperação começou a dar os primeiros passos em 2006, apesar dos problemas, que inclusive culminaram em CPI na Alesc. Diante da degradação e da desesperança com a estrutura, muitos pediram sua demolição ou mesmo a queda. O pior, felizmente, não veio.

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    Nesta segunda, ao reabrir para o público, o governador, Carlos Moisés (PSL), disse: “a ponte não é do governador Carlos Moisés ou de qualquer outro ex-governador, mas sim do povo catarinense, que pagou por isso com seus impostos”.

    A Ponte Hercílio Luiz será também um novo destaque nacional. Suas linhas já são conhecidas na paisagem florianopolitana, mas é o novo uso que deve atrair os olhares. Já estão marcadas, por exemplo, corridas de rua e de ciclismo que passarão pela estrutura. Outras possibilidades de uso ocorrem nessa semana, como bungee jump e slackline (veja programação e custos). Poderão no futuro ser permanentes, mas, na prática é a mobilidade – sua acepção primária – que dará a redenção a toda a obra de reforma. Em breve há abertura gradual a diferentes modalidades de tráfego (veja aqui quais veículos passam primeiro).

    Desde setembro de 2020, veículos de passeio, com pelo menos dois ocupantes, podem passar pela ponte Hercílio Luz. Em 2021, o horário de passagem foi ampliado para ocorrer das 9h às 6h, de segunda a sexta-feira. Ônibus, táxis, veículos oficiais e de emergência podem circularem em todos os horários.

    A Ponte Hercílio Luz agora tem tudo para ser um símbolo do que gestões políticas modernas podem alcançar, se feito bom uso e sustentável da estutura, financeira e responsavelmente. Para o governo, há a possibilidade de manter a manutenção através de alugueis de bares e restaurantes no entorno das cabeceiras insular e continental. Por enquanto está em fase de estudos.

    A maior obra de recuperação da história de Santa Catarina

    Por mais de 90 anos, a Velha Senhora resistiu a um inimigo invisível, inevitável e danoso: o salitre, produto da ação corrosiva do mar. Ao mesmo tempo, encarou outras frentes de batalha. Uma delas, o desgaste natural da estrutura, agravado pelo passar das nove décadas. Outra foi o aumento da carga e do número de veículos ao longo do século passado, muito além do que previa o projeto original.

    Devolver à Ponte Hercílio Luz suas características originais foi um trabalho histórico. A maior e mais complexa obra do tipo já realizada em SC.

    O projeto de reabilitação da Ponte Hercílio Luz foi apresentado pelo Governo de Santa Catarina em 24 de março de 2005. No fim daquele mesmo ano, foi publicado o edital de concorrência para a primeira etapa da obra.

    Vencedor da licitação, o consórcio formado pelas empresas Roca e Tec iniciou a execução do contrato em 17 de fevereiro de 2006. Essa etapa consistiu na manutenção preventiva dos elementos metálicos e preparação da base para tratamento e reforço dos blocos de ancoragem, além da recuperação das estruturas metálicas e das rampas dos dois acessos. Tudo para dar segurança à sequência dos trabalhos.

    Em 2009, o consórcio Florianópolis Monumento iniciou o que seria a fase final da obra. A recuperação de todo o vão central, das torres principais, da passarela e das pistas de rolamento começou a sair do papel.

    O projeto previa quatro torres que sustentariam a ponte para a recuperação do vão central.

    trabalhador solda parte da estrutrura da ponte sentado sobre a viga usando máscara de solda
    Centenas de trabalhadores atuaram na reforma da ponte – Ricardo Wolffenbüttel/SECOM/Divulgação/CSC

    Mergulhadores precisaram descer a quase 30 metros de profundidade, enfrentando fortes correntes marítimas. Eles podiam permanecer apenas poucos minutos submersos para soldar as escoras no fundo do mar com altíssima precisão.

    Depois dessa etapa, a obra começou a atrasar. A previsão de término era 2012, mas o ano de 2014 acabou com os trabalhos praticamente paralisados, sem perspectiva de avanços. O Governo do Estado rompeu o contrato unilateralmente com a companhia responsável.

    Uma nova empresa foi contratada, a Empa, controlada pelo grupo português Teixeira Duarte. O tempo era um fator decisivo. As soldas, o material e a estrutura corriam risco de deterioração. A obra foi novamente dividida em duas partes. Primeiro, concluir as torres de sustentação. Depois, construir a treliça, efetuar a transferência de carga, trocar rótulas e substituir as barras de olhal.

    Paralelamente, o Governo do Estado fazia contatos com a American Bridge, empresa dos Estados Unidos responsável pela construção da Ponte Hercílio Luz. Técnicos e gestores da companhia estiveram três vezes em Florianópolis para vistoria, mas, em outubro 2015, a empresa desistiu da obra.

    A Teixeira Duarte, então, foi contratada novamente para terminar a reconstrução. A previsão inicial de entrega era outubro de 2018, mas o prazo não foi cumprido.

    No início de 2019, com o Governo do Estado sob nova gestão, ficou definido que a reabertura ocorreria até 30 de dezembro do mesmo ano. Ao longo do ano a reforma andou sem mais contratempos. As transferências de carga para a estrutura original da ponte Hercílio Luz foram concluídas com sucesso, assim como as demais etapas da obra. No último dia 19, 48 caminhões foram colocados sobre a estrutura, para um teste de carga de 960 toneladas, concluído com sucesso. Em março termina o contrato com a Teixeira Duarte e a ponte estará definitivamente concluída, de volta ao cotidiano.

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