No início da semana passada, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) identificou a transmissão comunitária da nova variante da Covid-19 em Santa Catarina. “Estamos fazendo um esforço científico paralelo e complementar ao trabalho dos órgãos governamentais”, explica o professor Glauber Wagner, coordenador do estudo.
O estudo identificou três casos da P.1, variante que surgiu no Amazona, mais transmissível que as linhagens dominantes até então. Ela faz parte de um conjunto de linhagens chamadas de VOC (Variantes de Preocupação, da sigla em inglês, Variant of concern), assim como as cepas descobertas no Reino Unido e na África do Sul – mais recentemente foram encontradas duas novas nos Estados Unidos.
As três amostras coletas foram em Florianópolis, no Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU). “Na investigação do hospital houve uma suspeita de que poderia ser a nova variante. Sequenciamos as amostras e comprovamos que se tratava da P.1. Uma nova investigação mostrou que os pacientes se infectaram no Estado. Ou seja, houve transmissão comunitária”, conta Wagner, que é professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC e coordenador do Laboratório de Bioinformática.
Na quinta-feira (03/03), quando o resultados da pesquisa da UFSC foram divulgados, a Fiocruz confirmou outros dois casos da P.1, identificados pela Rede de Vigilância Genômica em Santa Catarina – ela é feita por meio do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-SC) em parceria com o Ministério da Saúde (MS).
+ 64% das infecções são por variantes, diz Fiocruz
A triagem amostral é realizada em conjunto com a área técnica responsável pela vigilância da Covid-19 na Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC), que encaminha o material para os laboratórios de referência em sequenciamento genômico. Para Santa Catarina, o Ministério da Saúde estabeleceu como referência a Fiocruz. Em um comunicado também divulgado em 03 de março (quinta-feira), a fundação divulgou que as VOCs prevalecem no Estado – representando 63,7% dos casos
Para ser possível a realização da pesquisa, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), destinou R$ 100 mil para o estudo. O projeto aprovado na Fapesc buscava, primeiramente, descobrir se haveria diferentes mutações nas regiões do Estado. Caso essa hipótese se confirmasse, seria possível tomar medidas regionalizadas, mais restritivas, por exemplo. “A hipótese não se confirmou. As mudanças no genoma foram gradativas e seguiram o padrão do país mesmo, não havendo uma predominância de uma variante em uma região ou outra, sendo todas dispersas pelo Estado.”
Aumento da capacidade
Além do HU, as amostras sequenciadas foram colhidas nos hospitais Regional do Oeste, de Chapecó, e Santa Terezinha, de Joaçaba, além do próprio Lacen-SC. O sequenciamento do genoma é realizado em parceria com a startup catarinense Biome-Hub, de Florianópolis.
Na semana passada, depois de terem identificado a nova variante, os pesquisadores se reuniram com representantes do Lacen, Dive e Superintendência de Vigilância do Estado e decidiram remanejar o projeto para ampliar a capacidade de sequenciamento. Até agora foram feitas 109 análises – pelo menos mais 60 serão realizadas.
“Basicamente abrimos mão de aquisição de equipamentos, de computadores para análise, porque conseguimos com parceiros nossos, embora os nossos computadores estejam dando conta de parte das análises no momento”, explica Wagner. “O objetivo é otimizar os recursos para podermos sequenciar mais amostras para contribuir neste período de pandemia que precisamos urgentemente conhecer o que está circulando no Estado de Santa Catarina.”