Pesquisa da UFSC mostra que risco de internação por Covid cai com uso de tríplice viral

    De acordo com dados de uma pesquisa que está sendo realizada pelo Centro de Pesquisa do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), os voluntários vacinados com a tríplice viral tiveram redução de 54% na possibilidade de ter sintomas de Covid-19, enquanto o risco de serem internados caiu para 74%. As informações ainda são preliminares.

    A vacina MMR, conhecida popularmente como tríplice viral, age contra sarampo, caxumba e rubéola, pois usa microorganismos vivos e atenuados. Estudos têm demonstrado que esse tipo de imunizante apresenta uma excelente resposta imunológica a outros agentes, a chamada imunidade heteróloga. Desde julho de 2020, os pesquisadores de Santa Catarina estão estudando o seu efeito na prevenção e na severidade da Covid-19 causada pelo novo Coronavírus.

    Ao todo, são 430 voluntários da área da saúde que estão participando do estudo do Centro de Pesquisa do HU-UFSC. Uma parte recebe o imunizante e a outra, placebo (substância inativa). O experimento ainda está em andamento, com avaliação clínica e exames PCR dos participantes e com previsão de ser finalizado em março de 2021. Os dados acima fazem parte de uma “Nota prévia – Análise Interina de Dados”.

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    Segundo o professor Edison Natal Fedrizzi, coordenador do estudo, uma “análise interina” é efetuada quando já se é possível verificar a eficácia de uma substância em relação ao placebo. “Não é a análise final. No decorrer do estudo, vamos fazendo algumas análises para avaliar possíveis efeitos colaterais e a eficácia do tratamento. Quando a gente tem um resultado significante, que está demonstrando a realidade, já começamos a divulgar porque provavelmente ele vai se manter ou melhorar até o final do estudo”, explicou.

    O objetivo do estudo, não é substituir as vacinas específicas que já estão sendo utilizadas no Brasil. A tríplice viral, amplamente usada no Sistema Único de Saúde (SUS), pode auxiliar na estratégia de vacinação. Como mostra a nota: “Estes resultados são bastante animadores, pois trata-se de uma vacina não específica para o novo coronavírus, mas que mostrou resultados de eficácia semelhante a algumas vacinas específicas divulgados recentemente. Em hipótese alguma a vacina tríplice viral irá substituir a vacina específica. No entanto, seria muito útil se fosse possível vacinar os grupos não prioritários com esta vacina até que tenhamos a disponibilidade de vacinar toda a população com as novas vacinas contra a Covid-19”.

    Dentro desse experimento, também está sendo avaliado quanto tempo a tríplice viral age contra a doença respiratória. A estimativa é que seja de três a seis meses, caso o paciente receba uma dose, ou oito meses a um ano, no caso de duas doses.

    Isso porque a tríplice viral, contra o novo coronavírus, age de uma forma diferente das vacinas específicas. “Estamos usando um efeito deste tipo de vacina que é a primeira fase da imunidade, a imunidade nata. A imunidade de longo prazo é chamada de humoral, associada à produção dos anticorpos específicos contra o microorganismo alvo da vacina. A humoral produz anticorpos. A celular é a produção de células de defesa do nosso organismo no primeiro combate frente a um organismo agressor. É uma proteção contra qualquer infeção”, informou Fedrizzi.

    Além da Fapesc, o estudo também conta com apoio do Laboratório FioCruz – Bio-Manguinhos, Secretaria Estadual de Saúde (SES – LACEN) e Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis (SMF).

    Investimento da Fapesc

    O investimento da Fapesc foi de aproximadamente R$ 2,2 milhões em ações contra a Covid-19 em Santa Catarina, incluindo pesquisas e desenvolvimento de produtos para combater a pandemia e seus efeitos. O estudo da tríplice viral é um dos cinco projetos aprovados no edital 06/2020 e recebeu cerca de R$ 100 mil para o desenvolvimento.

    Há também pesquisas sobre testes mais seguros para diagnósticos da doença, produção de tecido pulmonar humano e ativação de laboratório na Serra catarinense. Alguns desses projetos tem como objetivo divulgar a conclusão nos próximos meses.

    Para o professor Amauri Bogo, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação e presidente em exercício da Fapesc, fica clara a importância da ciência para a sociedade durante a pandemia. “A Fapesc está cumprindo seu papel ao dar suporte a uma série de pesquisas e inovações para o enfrentamento da pandemia. Alguns resultados já foram divulgados, mas, em breve, haverá outros”, afirmou.

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