Armas para todos

Arma Atada - Obra de arte de Carl F. Reutersward - Foto: Fernando Donasci/Divulgação

Uma entrevista dada por “Você-Sabe-Quem” corre em vídeo pelas redes sociais, dizendo que, com a liberação da posse de armas para os cidadãos comuns, as mulheres poderão ter armas em casa e, assim, enfrentar agressões de seus companheiros ou de terceiros. O candidato declara, com um grande sorriso no rosto, que, com uma arma na mão, as mulheres poderão erradicar o “feminicídio”, transformando-o em “homicídio”.

Em outro caso, o mesmo candidato empunha o tripé de uma câmera como se fosse um fuzil e conclama os seus eleitores e plateia a “metralhar” seus oponentes políticos, fazendo, assim, pela via do escárnio, um violento ataque à democracia.

Em ambos os vídeos, os defensores do candidato apontam suas declarações como brincadeiras inocentes, metáforas sobre as suas reais e nobres intenções: dar ao povo a possibilidade de defender-se pessoalmente da violência, dos assaltos, etc., uma vez que o Estado já provou que não consegue proteger a sociedade.

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Nada mais enganoso. Se a posse livre de armas fosse garantia de proteção e redução da violência, os Estados Unidos seriam, hoje, a nação mais pacífica da Terra. Não teriam, como têm, uma das maiores populações carcerárias do planeta e um dos maiores índices de mortes por armas de fogo. O fato de os cidadãos portarem armas não reduziu a violência por lá, só fez com que os bandidos passassem a portar armas ainda maiores e mais letais.

Outro dado importante: somente nestes primeiros oito meses de 2018, mais de quatrocentos (MAIS DE 400) ataques armados contra grupos de pessoas comuns foram realizados naquele país. E não estamos falando de briga de gangue. Foram ataques perpetrados por malucos que, até o dia anterior, eram considerados “cidadãos de bem”.

Voltando, agora, à proposta de armar as mulheres contra o feminicídio. Mais uma vez, o que é entendido pelos apoiadores da ideia como ironia não tem graça nenhuma. A proposta existe mesmo e o objetivo é claro: responder ao possível agressor com o máximo de violência, matando-o. Ou esperar que, pelo fato de possuir uma arma, ele deixe de agredir a vítima. Nada mais falso.

Nessa hipótese, na imensa maioria das vezes, a mulher acabaria morta pelos tiros da própria arma que tentou usar. E mais: uma série de agressões que, sem a existência da arma por perto, ficaria restrita a limites não-letais, resultaria em mortes desnecessárias.

É uma proposta besta, disforme, idiota, burra, vinda de uma mente que não tem o menor conhecimento a respeito dos valores morais e da natureza das relações humanas em uma estrutura social adequada ao Século XXI. E olhe que, em 30 anos convivendo em ambiente político e democrático, poderia ter aprendido muito. Se não aprendeu, é porque ele (a quem recuso declinar o nome) tem grandes chances de ser mesmo um psicopata.

E a história está cheia de psicopatas que aproveitaram o sofrimento dos seus povos para iludir multidões, levando-as às piores escolhas que poderiam ter.

Pensem nisso.

Respostas

Tenho sido veemente ao sustentar, em minhas afirmações na coluna, em blogs ou em redes sociais, onde amigos e leitores argumentam, que a escalada autoritarista apoiada, segundo pesquisas, por um entre cinco brasileiros, é perigosa e pode, se eleita, nos levar a um retrocesso sem precedentes na história do país.

Entre ataques tentando me ligar a um ou outro partido político ou acusações sem sentido em qualquer ambiente plural e democrático, uma, em especial, me chamou a atenção, por tentar “combater fogo com fogo”, imputando intolerância ao pensamento corrente nessa massa de pessoas. Diz o leitor:

“Eu fico pensando… onde fica o direito das pessoas de querer algo diferente do que você quer, Oscar? Isso não me parece democrático.”

Como percebo que a mesma dúvida está por aí na cabeça de muitos, achei interessante publicar minha resposta. Aí vai.

Caro leitor, todos, é claro, têm o direito de ter opinião diferente da minha. Este é o princípio, aliás, de uma democracia. O que não pode. O que não devemos permitir é que algumas opiniões, quando e se transformadas em atos, venham a ferir os direitos dos demais. E esse é, justamente, o caso das propostas e da personalidade de alguns desses que se propõem a nos liderar. Entende a diferença? Quer votar no Amoêdo, no Alckmin, no Ciro, na Marina, no Lula, no Meirelles? Ok. Vote e defenda suas ideias. Mas, jamais, apoie e defenda quem não respeita os valores democráticos.

Dê a sua opinião através da seção de comentários aqui na coluna, pelo Facebook.com/OscarKaroleski ou pelo Whatsapp 48 98807.7142

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