Existem cerca de 200 grupos formalizados no Brasil com o intuito de transmitir informações sobre adoção e orientar quem tem dúvidas sobre o assunto. Um deles, situado na Grande Florianópolis, é o Grupo de Estudos e Apoio à Adoção – Família do Amor (Geaafa).
O grupo é sediado no município de São José, no bairro Praia Comprida. As reuniões são abertas e acontecem no primeiro domingo de cada mês. “Nelas explicamos o que é adoção, como ela acontece na prática, quais são as crianças que estão aptas. Fazemos esse trabalho porque ainda existem muitos mitos, lendas e preconceitos em torno do assunto”, esclarece o vice-presidente da Geaafa, o advogado Leandro Canavarros.
Ele complementa que, além de pais e mães adotantes e de famílias pretendentes à adoção, o grupo também é formado por profissionais voluntários de diversas áreas, como Direito, Psicologia, Serviço Social e Pedagogia. “Todos engajados nesta causa, que tem como intuito trazer visibilidade para as crianças que aguardam uma família”, conclui.
A juíza Janice Bastos, da 1ª Vara do Trabalho de Criciúma, é uma das pretendentes à adoção e acompanha as reuniões do Geeafa. “A espera por um filho, que equivale a uma gestação, é muito angustiante, na medida em que não é possível prever quando o telefone vai tocar com a notícia da chegada tão esperada. Mas essa angústia fica muito minimizada quando se busca um grupo de pretendentes à adoção como o Geaafa”, explica.
Bastos também afirma que, nessa “atmosfera adotiva”, as dores são compartilhadas e as pessoas que nela convivem trocam experiências. “Além disso, são realizadas palestras que objetivam esclarecer e auxiliar os futuros papais e mamães a lidarem com a espera e com as demandas de uma criança ou adolescente que chega por meio da adoção”, conclui, complementando que os grupos de adoção têm papel fundamental para manter vivo o “projeto adotivo” dentro de cada um.
Em função da pandemia da Covid-19, as reuniões do Geaafa estão sendo realizadas on-line, por meio da plataforma Zoom. O link para acesso é divulgado próximo à data, no site da Geaafa.
Carta de mãe que adotou quatro
“Eu sou engenheira, meu marido também. Nós nos conhecemos na faculdade, namoramos, casamos e trabalhamos juntos numa multinacional. Aí eu descobri que não podia ter filho. O médico, vocacionado e sensível, disse que poderíamos ter a mesma sensação da maternidade através da adoção. Aquilo ficou em nós, mas era preciso avaliar com carinho, amadurecer a ideia. Nós morávamos no Rio de Janeiro.
Resolvemos entrar na fila da adoção em 2001 e, no ano seguinte, finalizamos o processo. Aguardamos um ano e sete meses. Então veio o nosso primeiro filho – ele tinha 11 meses. Por ele, a gente decidiu viver numa cidade mais tranquila, segura, e viemos para Itajaí. A nossa intenção, no entanto, nunca foi ter um filho só.
Minha família de origem é grande, tenho vários irmãos, casa cheia, sempre aquela alegria. Então, quando meu primeiro filho estava com 14 anos, decidimos adotar novamente. Nossa ideia, entretanto, era adotar mais um apenas. Ficamos três anos e meio na fila e, em 2017, chegaram as crianças. Isso, crianças, no plural, porque adotamos um grupo de irmãos: duas meninas – uma com quatro anos e outra com oito – e também um menino de cinco.
A família de três pessoas virou uma família de seis. É uma mudança profunda e a adaptação foi um grande desafio. O abandono que eles sofreram, antes de nos conhecerem, causou traumas profundos. Foi preciso cuidado, empenho e muito afeto. Na verdade, é uma luta cotidiana. Eu parei de trabalhar fora.
Faço questão de frisar: não há nenhum “glamour” na adoção tardia. Nós não somos heróis e isso não nos torna melhores do que ninguém. É importante que as pessoas tenham consciência disso. É preciso muito preparo, é preciso estar 100% convicto do caminho escolhido para adotar crianças mais velhas. Elas chegam com grandes necessidades e a gente não pode deixá-las desemparadas.
De onde vem a força para encarar o desafio? Do amor – é ele que guia nossas escolhas e que nos inspira. Ser mãe é algo muito emocionante. Quando este amor é preenchido, é inimaginável viver sem.”
por Alcione de Paiva Godinho e Castro