De acordo com o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil, o município de Florianópolis está classificado como o quinto com mais cavernas conhecidas em todo o país. São 187 cavernas cadastradas, correspondendo a 2,3% de todas as formações geológicas do tipo de todo o país.
O Brasil possui classificadas até hoje 8,2 mil cavernas. Em toda a região sul são 673, 218 das quais em Santa Catarina. Todas têm nome e coordenadas para identificação estabelecidas. Os locais são o habitat de aranhas, morcegos, opiliões e grilos, e sua degradação ou exploração sem o devido conhecimento pode também representar um desequilíbrio na fauna do entorno.
A maior parte das cavernas da capital catarinense estão nos costões ao redor da ilha e dentro das áreas de mata preservada. São formações resultantes de movimentos das forças geológicas do planeta, como o abrasamento pelo mar ou crateras abertas por vulcões que existiram há milhões de anos, portanto obras inestimáveis da natureza. Locais reservados e pouco acessíveis que preservam faunas específicas e possíveis espeleotemas (as formações rochosas que ocorrem em seu interior).
Uma das maiores cavernas da ilha está no interior da Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha. A chamada Caverna do Matadeiro tem cerca de 21 metros de profundidade e até 4m de altura. Segundo pesquisadores da USFC Edison Ramos Tomazzoli, Luciana Cristina de Almeida e Marinês da Silva, a caverna pode ter mais de 123 mil anos. Artigo publicado pelo grupo em 2012 classificou nove formações de furnas em Florianópolis, detalhando as características espeleológicas.
Outra enorme caverna na ilha é localizada no costão da praia do Pântano do Sul, com aproximadamente 10 m de largura e 5m de altura. A Caverna do Pântano do Sul foi esculpida no costão leste da praia e é classificada como furna marinha. Seguindo esse costão, que leva à Praia da Lagoinha do Leste, há diversas outras formações cavernosas, algumas mais conhecidas pelos trilheiros e a maioria pouco acessível. Uma das mais “famosas” é chamada de Caverna Toca da Baleia, entre o Matadeiro e a Lagoinha do Leste, vista a partir da trilha.
Já no morro da Tapera há um sistema de cavidades classificado como dolinas, as quais são interligadas por tuneis tubulares em solos espessos. Essas ocorrências foram estudadas por padre Rohr em 1977 e caracterizadas como antrópicas, utilizadas como a parte subterrânea de moradias de povos pré-coloniais. Ele as relacionou aos chamados “buracos de bugre” do planalto catarinense. Em 2011 foram interpretadas como cavidades naturais, mas sem descartar a possibilidade de uma posterior uso por humanos para se proteger.
Em Santa Catarina outro município com grandes formações cavernícolas conhecidas é Botuverá, com quatro enormes cavidades que alcançam 1.200 metros de extensão, com centenas de espeleotemas formados há milhares de anos pelo gotejamento de água. Em virtude de sua beleza e porte, as grutas de Botuverá são consideradas as maiores e mais ornamentadas cavernas do Sul do Brasil.
Municípios com mais cavernas no Brasil
Município | Estado | Cavernas |
São Geraldo do Araguaia | Pará | 468 |
Pains | Minas Gerais | 422 |
Iporanga | São Paulo | 419 |
Matozinhos | Minas Gerais | 263 |
Florianópolis | Santa Catarina | 187 |
Fonte: SBE
+ Corte de 150 araucárias mostra como novo código ambiental de SC vai desproteger o ambiente
Decreto 10.935/2022 reduz proteção
Com o recente Decreto 10.935/2022, do governo federal, todos os espeleólogos do Brasil se viram diante de uma ameaça potencial grave à preservação das mais de 8 mil cavernas brasileiras conhecidas. Isso porque, de acordo com a regra, agora é permitido que cada órgão ambiental licenciador autorize a destruição total ou parcial de cavernas de máxima relevância por atividades ou empreendimentos considerados “de utilidade pública”, que não possuam alternativas técnicas e locacionais viáveis, que tenha viabilidade do cumprimento da medida compensatória e que os impactos negativos irreversíveis não gerem a extinção de espécie que conste na cavidade impactada.
A Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), por exemplo, repudiou completamente o ato, classificando-o como um retrocesso grave e sem diálogo com a comunidade espeleológica. Outros grupos de espeleologia, paleontologia e biologia em geral também repudiaram o decreto, por ora mantido.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br