Santa Catarina tem 395 pessoas dentro de hospitais públicos em diferentes tipos de tratamento, que precisam de cuidados intensivos. Essa é a lista de espera por UTI em todo o estado, que cresceu vertiginosamente em fevereiro e se mantém em março, com o alto índice de saturação dos hospitais, públicos e privados.
O governo do estado, vagarosamente acabou escolhendo fazer restrições em quatro dias – os “lockdowns” de fim de semana – na tentativa de achatar a curva de contágio do coronavírus, que ainda não mostrou grandes resultados. Na verdade, a situação é pior, com mais gente infectada e mortes por Covid aumentando. Nessa terça (9) foi o recorde de registros em um boletim, com 109 fatalidades. Pontualmente também faltam medicamentos para que pacientes sejam intubados, por conta da alta demanda.
O governador, Carlos Moisés, é pressionado para fazer algo mais efetivo para conter o colapso na saúde, mas também é pressionado para que não faça nada. Nesses diferentes lados, constam, por exemplo, o Tribunal de Contas do Estado, pedindo restrições por 14 dias, e, do outro, grandes empresas, que não querem ser penalizadas com o impacto econônico que se arrasta há um ano no Brasil com a pandemia.
O fato é: ninguém quer um lockdown (ainda que esse termo seja ambíguo sobre o que realmente significa). Um lockdown simplesmente fechando comércio e serviços, sem o devido amparo às pessoas físicas e jurídicas, é o remédio que tem sido usado para segurar a pandemia, porém extremamente colateral. Mas, enquanto há centenas de milhares de pessoas negacionistas, que não conseguem (e não querem) seguir as regras mais básicas de evitar contágio, como o respeito às máscaras e distanciamento social, outra solução que não esse remédio amargo de “toque de recolher” fica inócua para achatar a curva.
“Contra lockdown, 148 entidades e fóruns empresariais apoiam e parabenizam atuação do Governo do Estado de Santa Catarina em se manter firme com as medidas restritivas para conter o avanço do novo coronavírus sem penalizar duramente a cadeia produtiva e essencial para o desenvolvimento do Estado”, diz a carta dos empresários assinada nessa terça. Logicamente o contrário está implícito: se Moisés tomar decisão contrária haverá reação. “O Tribunal de Contas de Santa Catarina recomendou, nesta segunda-feira (8/3) à noite, ao governador Carlos Moisés da Silva, o fechamento imediato dos serviços não essenciais por 14 dias consecutivos, por considerar que as estratégias adotadas pelo Executivo no combate aos efeitos da pandemia do novo coronavírus têm sido insuficientes”, publicou o TCE. Entidades e sindicatos de profissionais do setor de saúde tem feito algumas manifestações mais tímidas pedindo socorro, diante da saturação contínua do trabalho contra o coronavírus.
Nesta quarta-feira (10/3) à tarde, com um dia de adiamento, o governador faz uma reunião com prefeitos de Santa Catarina, órgãos de controle e deputados estaduais para decidir se o estado entra em mais restrições ou não. O governo tem comemorado diversos índices econômicos de crescimento dos setores e o reflexo na arrecadação recorde do estado. Se Santa Catarina está tão bem quanto afirma o poder público, essa musculatura pode ser usada para atacar efetivamente a pandemia, e não apenas com o aumento de leitos de UTI, que tem se mostrado insuficiente para salvar a vida de pacientes e dar o arrocho às equipes de saúde, sobrecarregadas.
Mas, se continuar sem pisar no freio de alguma maneira, Santa Catarina alcançará números ainda maiores de mortes pela Covid-19, que passam de 8.170.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correios.com.br