No final de outubro de 2021 homens cumpriram ordens em derrubar as casas e salas que formavam o antigo Coleginho de São José, espaço assim conhecido por muitos residentes da cidade, na Rua Bonfim, no Centro Histórico.
O local, que após o grupo escolar passou a abrigar uma ONG de mulheres vítimas de violência doméstica, era atualmente utilizado por um grupo de pessoas voluntárias da Igreja, frequentadores da Igreja do Bonfim, que realizava diversas atividades sociais, como distribuição de comida aos que estão em situação de rua, aulas de costura, atividades lúdicas com crianças, entre outras.
Quando os homens começaram a retirar os telhados, arrancar as portas e demolir as velhas estruturas de alvenaria e madeira não havia informação aos que ali estavam usando no momento o espaço o que se passava.
Ao Correio, a Igreja Católica, questionada na Arquidiocese Metropolitana de Florianópolis pela reportagem sobre o motivo da demolição sumária, respondeu através da Paróquia de São José que “foi uma decisão tomada em vista da garantia de segurança, tendo presente que o estado da edificação estava comprometido, o que exigiu, diante, inclusive das exigências do Corpo de Bombeiros, atitudes imediatas”. O Corpo de Bombeiros não confirma a informação.
“Além disso – prossegue a resposta – por não ser mais conveniente manter a edificação no estado em que estava e não havendo condições de intervenção, por ser um projeto financeiramente inviável, e considerando que tudo isso poderia gerar responsabilidade civil, com multas e outras sanções, a melhor decisão foi pela demolição da edificação”, complementa a explicação.
E o que vai ser, além de entulho?
Ao menos sete das oito estruturas que formavam o conjunto foram ao chão e permanecem lá até agora, há pelo menos um mês, sem retirada dos entulhos e largadas como se não houvesse qualquer plano para o local. Diariamente pessoas acostumadas à presença da sede do antigo Coleginho, da ONG ou das dezenas de voluntários que se doaram nos últimos dois anos passam pela Rua Bonfim, olham, algumas descem do carro e observam pelas barras do portão, vão-se embora. A dúvida fica: o que vai ser desse espaço de confluências históricas no bairro?
Sobre o futuro do espaço, que ocupa quase uma quadra inteira entre as ruas Bonfim, Germano Gerlach e Raulino Gerlach, a Igreja diz que: “decisões relativas ao uso e ao destino do imóvel, cabem, exclusivamente, a quem responde pela pessoa jurídica, de acordo com o direito”.
A demolição causou estranheza em quem frequentava local, incluindo uma vez esse repórter, em uma festa de Natal na qual muitas pessoas doavam brinquedos e guloseimas às crianças carentes. A estranheza decorre da ausência de explicações pela demolição e porque o trabalho da Pastoral da Caridade era crescente e, agora, deslocado para um galpão nos fundos da Casa de Apoio da Praia Comprida. O grupo havia reformado parte de uma das casas do antigo Coleginho para construir uma nova cozinha – sem risco de desabar – e fornecer as marmitas aos errantes, entre outros trabalhos.
“Quanto às atividades que ali eram desenvolvidas, foram realocadas. O trabalho social, realizado pela Pastoral da Caridade, foi acolhido pela Ação Social Arquidiocesana” – diz a paróquia – e “quanto aos próximos passos, eles serão dados de acordo com as condições da própria Paróquia”.
A Igreja do Senhor do Bonfim, anexa e tombada, continua de pé.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br