Uma obra prometida há décadas e que nunca saiu do papel criou corpo nesta quinta-feira (15 de março): o governador Eduardo Pinho Moreira, ao lado do prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, e do presidente da Casan, Valter Gallina, autorizou a recuperação ambiental da Beira-Mar Norte do município, que prevê o controle de efluentes conduzidos pela rede de drenagem (coleta da água das chuvas) em 3,5 quilômetros de praia – da Ponte Hercílio Luz à Ponta do Coral. A conclusão da obra está prevista para oito meses, com investimento de R$ 17 milhões do Governo do Estado, por meio da Casan.
“Florianópolis é uma das cidades mais bonitas do mundo e o uso razoável dessa baía tem que ser perseguido. Sou mais um morador de Florianópolis e me associo para cobrar da Casan a efetividade desse projeto, que tem uma técnica moderna e inovadora já usada em outros países (na Califórnia, Estados Unidos, por exemplo). Com certeza todos nós estamos na expectativa e eu serei cobrador. Moro aqui a poucos metros (aponta na direção dos prédios ao longo da Beira- mar) e vou acompanhar essa obra praticamente todos os dias. Vou cobrar de todos os técnicos da Casan que se cumpra o que apresentaram”, disse o governador.
ÁGUA CONTAMINADA
O plano de trabalho contempla a instalação de uma Unidade Complementar de Recuperação Ambiental (URA) junto à Estação Elevatória da Casan na Avenida Beira-Mar (área conhecida como Bolsão da Casan). A URA vai tratar a água contaminada da rede de drenagem e lançar ao mar efluentes livres de coliformes fecais. O equipamento terá capacidade de tratar até 13 milhões de litros por dia.
Serão 15 pequenas estações conduzindo a mistura de chuva com esgoto até a URA Beira- Mar. O presidente da Casan, Valter Gallina, disse que o projeto consolida os investimentos da empresa de saneamento na saúde e na qualidade de vida da Capital catarinense. “Estamos investindo mais de R$ 400 milhões em rede de esgoto na cidade. Já solucionamos o problema da falta de água e, agora, vamos devolver à população esta que é uma das áreas mais nobres. Os técnicos da Casan tiveram que buscar capacitação e consultoria internacional e farão uma obra parecida com a que foi feita na praia de Santa Monica, na Califórnia (região oeste dos Estados Unidos), e que é exemplo para todo o mundo”, explicou.
O prefeito Gean Loureiro disse que muitos não acreditavam que a recuperação ambiental da Beira-Mar Norte fosse possível. “Agora temos tecnologia, projeto definido, recursos e acompanhamento técnico. Isto traz uma nova perspectiva para Florianópolis, com mais pessoas usufruindo a Beira-Mar e com novas opções para eventos culturais, esportivos e até para uma futura marina na cidade”, destacou o prefeito.
BENEFÍCIO
“Era um lugar…”. Moradora há 76 anos em Florianópolis, Soeli Neves de Carvalho lembrou que frequentava a praia da Beira-Mar durante sua juventude. “As famílias se reuniam aqui, em toda a orla. Era um lugar romântico e familiar. Estou muito feliz com o início desta obra, que é aguardada há muitos anos. Para nós, idosos, é muito importante ter um local para sentar, tomar um suco e contemplar esta vista maravilhosa”, afirmou.
Frequentador da academia ao ar livre da Beira-Mar, João Catarina Barbosa, morador há 64 anos na cidade, também está na expectativa pela conclusão da obra. “Vai melhorar muito o nosso lazer. Será uma grande conquista para todos os florianopolitanos”, comemorou.
“A recuperação ambiental desta área é um sonho antigo de todos os moradores de Florianópolis. Imagino como será maravilhoso tomar um banho de mar aqui, assim como meus avós faziam”, relatou a representante da Associação de Amigos da Praça Celso Ramos (AMAPraça), Patrícia Saldanha de Vasconcelos.
O empresário Fernando Marcondes de Mattos (leia-se Costão do Santinho Resort), que representou a Organização Floripa Sustentável, destacou duas obras do governo do Estado na região: “A recuperação da ponte Hercílio Luz e a despoluição da Beira-mar Norte que vai dar oportunidades para desenvolvermos atividades náuticas através de Marinas. Essas duas obras são emblemáticas e vão mudar a história de Florianópolis. Seguramente são as duas obras da década, essa aqui em menos de um ano estará em funcionamento, eu não tenho dúvidas e já tem um projeto de Marina que está na prefeitura em vias de aprovação para lançamento de edital”, disse.
POLUIÇÃO LOCALIZADA
Apesar de a área central de Florianópolis contar com 100% de rede de coleta e tratamento de esgoto, diferentes fatores ainda causam a poluição da praia. Entre eles, a ocupação desordenada e o altíssimo adensamento urbano. Para agravar, Casan e Prefeitura da Capital estimam que cerca de 50% dos imóveis da região apresentam alguma irregularidade na instalação com a rede coletora de esgoto.
Esse conjunto de fatores faz com que os canais pluviais arrastem com a água da chuva uma alta carga de esgoto, gerando a contaminação que impede o banho de mar na zona mais populosa da Capital.
Análises realizadas pelo Laboratório de Efluentes da Casan para monitoramento da Baía Norte apresentam resultados que deram suporte ao projeto de despoluição da região. Esse acompanhamento mostra que a menos de 200 metros da areia da praia a água se apresenta dentro dos parâmetros de balneabilidade da Fatma. Essa boa condição da água comprova que a poluição da Baía está localizada nas galerias de água da chuva. E como a distância entre a Beira-mar Norte e a Beira-mar Continental é de um quilômetro, não há perigo de invasão de efluentes de um lado para o outro.