Para quem sonha em ser adotado, o maior rival é o tempo. Quanto mais ele avança, menos chance tem a criança ou o adolescente de encontrar uma família. É um paradoxo: há mais pessoas com intenção de adotar do que crianças aptas para adoção. Isso acontece porque os pretendentes, em sua maioria, preferem recém-nascidos. E ainda hoje, por incrível que pareça, parte deles quer crianças brancas.
Embora conscientes desta realidade, as irmãs Letícia, Adriana e Thaís (os nomes são fictícios), residentes numa casa de acolhimento em Santa Catarina, nunca perderam a esperança de encontrar uma nova família. Elas queriam, e isso era fundamental, ficar juntas, o que diminuía ainda mais a possibilidade de adoção – a caçula tem oito anos.
Mas aí o destino do trio cruzou com o da dupla Mariana Petersen e Tamara Forte. Moradoras do litoral catarinense e juntas há 14 anos, elas queriam filhos, cogitaram fazer inseminação, foram ao médico, desistiram.
A adoção, no radar do casal há algum tempo, deixou de ser só uma possibilidade: fizeram o cadastro, os cursos de habilitação, tudo como manda o figurino. Então souberam de um sistema chamado Busca Ativa, criado pela Corregedoria-Geral da Justiça (CGJ), do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).
Basicamente, o sistema foi pensado para estimular a “adoção necessária”, antes chamada de “adoção tardia”. É a última chance para as crianças e adolescentes que perderam a disputa contra o tempo e estão sem perspectiva de adoção. É quase uma repescagem, só que no campeonato mais valioso de todos. Boa parte dos que estão nesse sistema têm mais de 10 anos, alguns apresentam problemas de saúde, outros são grupos de irmãos.
Em quatro anos, o sistema possibilitou a adoção de 85 crianças e adolescentes. Funciona por meio de um cadastro na internet e dá visibilidade para os que estão fora do perfil preferido pelos pretendentes.
“Se não fosse o Busca Ativa essas três crianças ainda estariam no abrigo, mas agora elas ganharam uma vida completamente nova, uma perspectiva de um futuro melhor”, pontua o juiz Fernando Carboni, titular da Vara da Infância, Juventude e Anexos da comarca de Itajaí. “É um sistema tão eficiente que o Conselho Nacional de Justiça pretende replicar a experiência em todo o país”, completa.
O acesso é permitido às pessoas já habilitadas e o site apresenta um resumo biográfico, com fotos e vídeos das meninas e dos meninos. “Quando nós vimos as três, cada uma delas falando, se apresentando, foi muito emocionante, mas adotar três não estava nos nossos planos”, conta Mariana.
Dias depois, elas viram o vídeo outra vez. E lá estava a Letícia, a mais nova, dizendo que queria uma família onde houvesse muito amor. Passaram-se alguns dias, e as pretendentes voltaram ao site. Então Tamara clicou no botão que indica o interesse pelas crianças, informação que chega diretamente ao responsável pela Casa de Acolhimento.
Orientado por ele, o casal formalizou à Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja) o desejo de conhecer o trio. Na sequência, a assistente social do Fórum intermediou a aproximação. “Quando a gente as conheceu pessoalmente veio uma certeza instantânea: era por elas que nós estávamos esperando.”
A vida das cinco mudou radicalmente. É um desafio diário, com muitos obstáculos, e às vezes as mães acham que não vão dar conta, mas dão. E carregam a convicção de que foi a melhor decisão que tomaram na vida.
“Tudo o que essas meninas querem”, diz Tamara, “É estar junto, é afeto, é atenção. Elas desejam ser cuidadas e agora sabem que estamos e estaremos ao lado delas, para o que der e vier”. As cinco têm, mais do que nunca, o que desejou a mais nova das irmãs: “uma família unida pelo amor”.
Os interessados em adotar devem procurar o Serviço Social Forense da sua comarca, onde serão informados dos procedimentos necessários para a habilitação. Quem quiser também pode acessar o site do TJSC, no link “Adoção”, com informações detalhadas de como proceder.