Bugios são soltos nas matas de Florianópolis após 260 anos de ausência da espécie

    Primeiros três macacos foram soltos no norte da ilha em etapa histórica, de 4 anos de preparação

    A ilha de Santa Catarina poderá voltar a ter o ronco do macaco bugio ecoando pelas matas. Na terça-feira passada (9/1), após 261 anos de ausência, o bugio retornou às florestas de Florianópolis, marcando um momento histórico para a fauna local.  O projeto de reintrodução, da organização Silvestres SC, devolveu a primeira das seis famílias à Mata Atlântica, composta por três animais: dois machos e uma fêmea, apelidados de Sem Cauda, Ranhento e Ruivo, representando o retorno da espécie à área.

    A iniciativa é uma das que busca reverter a devastação ambiental que ocorreu na ilha com o processo de colonização, na qual houve perda estimada de 76% da cobertura vegetal desde a chegada dos europeus até o final da década de 1970, e que levou ao expurgo de diversas espécies do território ilhéu. A reintrodução do bugio-ruivo, extinto na região desde 1763, de acordo com estimativa a partir de registros analisados pelo projeto Fauna Floripa, é um processo para refazer populações de fauna dizimadas. Os felinos e muitas outras espécies também entram na lista.

    O trabalho foi iniciado há quatro anos com a rebilitação dos animais no Cetas do Rio Vermelho e deve durar pelo menos mais três, com o acompanhamento dos “novos” macacos na capital catarinense, que hoje tem quase metade da área protegida.

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    “Ainda temos cinco famílias aguardando a soltura. A primeira família já foi solta e está sendo monitorada. A segunda família passará pelo processo de ambientação. Assim que for liberada, outra família passará pelo processo de soltura e assim por diante”, diz Vanessa Kanaan, diretora do Silvestres SC.

    Espécie de bugio retorna a Florianópolis após 261 anos
    Bugio-ruivo retornou a Florianópolis em projeto de recuperação da população da espécie nativa – Foto: Daniel de Granville/Silvestres SC

    Nesse período de ambientação os bugios foram colocados em recintos no meio da floresta, permitindo que se acostumassem aos estímulos do ambiente, como sons, cheiros e a presença de outros animais. Além disso, a equipe realizou ajustes na alimentação, oferecendo folhas, flores e frutos nativos, preparando-os para a vida livre nas matas de Floripa.

    O bugio-ruivo (Alouatta guariba), nativo da Mata Atlântica, desempenha um papel vital na natureza, contribuindo para a dispersão de sementes e mantendo o equilíbrio ambiental. Estudos indicam que a ilha possui áreas propícias para abrigar mais de 1.400 indivíduos. Os locais escolhidos para a reintrodução incluem o Parque Estadual do Rio Vermelho, o Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe e o Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri.

    Monitoramento comunitário

    Com a soltura dos animais, iniciou agora o monitoramento ativo, o que pode ter a participação da comunidade. Vanessa e a equipe pedem que se alguém avistar um bugio-ruivo em Florianópolis pode enviar a informação da localização para o projeto, através das redes sociais. A participação no monitoramento é uma forma de exercer a ciência cidadã. Ao se tornarem “cidadãos cientistas”, os habitantes de Florianópolis têm a oportunidade de desempenhar um papel ativo na preservação da biodiversidade local.

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