O aumento de pessoas em situação de rua não é um diagnóstico isolado de São José ou somente da Grande Florianópolis. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a população em tal situação no Brasil cresceu 38% entre 2019 e 2022, quando atingiu 281 mil pessoas. O cenário desafia municípios de todo país.
No Brasil, a política nacional do Sistema Único de Assistência Social (Suas), promove um sistema de gestão participativa entre os três níveis de governo – municípios, estados e a União – para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Nesse âmbito está o serviço do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, com a equipe técnica e os acolhimentos. “Hoje o Município de São José traz estes serviços e também possui uma qualidade técnica”, aponta a secretária de Assistência Social, Rita de Cássia Faversani Furtado.
O Centro POP de São José, previsto no SUAS busca a promoção de direitos que possam conduzir a impactos mais efetivos para a população em situação de rua, visando à construção de novas trajetórias de vida. Assim integram as políticas sociais de saúde e assistência social, para qualificar o serviço.
Segundo a prefeitura, a estratégia de atendimento no município é considerada referência, pois desde a recepção o cidadão passa por uma triagem, para entender qual demanda necessita. É verificado se a procura do serviço está relacionada ao acolhimento institucional, solicitação de documentos, atendimento técnico, cadastro único e necessidades básicas. Caso ainda necessite de um atendimento com a assistente social é possível realizá-lo no mesmo dia.
“Quando eles chegam até mim, muitas vezes são pessoas que não estão habituadas a estas situações, porque vêm de outras cidades em busca de oportunidades de trabalho. Nós vamos filtrando cada situação e encaminhamos cada caso”, explica a assistente social do Centro POP, Letícia da Costa Barbosa.
Mas esta posição de “destaque” em atendimentos desafia o município da região metropolitana, pois a procura pelos serviços assistenciais aumenta, passando da capacidade padrão de 100, para 150. Como foi o caso recente, no fim de fevereiro, onde a Secretaria de Assistência Social precisou fechar o local por dias para reorganizar a oferta do serviço.
Acolhimento
Caso esteja precisando de um lar temporário, o desabrigado é encaminhado pelo Centro POP para uma das três casas de acolhimento conveniadas com a Prefeitura de São José, localizadas no bairro Barreiros, Campinas e Roçado. Cada estrutura possui 30 vagas. O Instituto Amor Incondicional (Aminc) oferece 25 vagas para o público masculino e cinco para o público feminino. A instituição é formada por uma equipe de 15 integrantes, formada por assistência social, psicólogos, guardas, educador, equipe de limpeza e cozinheira.
São oferecidas quatro refeições, com o cuidado de manter alimentação saudável, pernoite, segurança alimentar, é feita uma busca ativa sobre as demandas, para auxiliar no processo de saída das ruas, com uma nova perspectiva de vida, são feitos encaminhamentos para a saúde, fortalecimento de vínculos comunitários e familiares, para inseri-los na sociedade e no mercado de trabalho.
Retomando a vida
O morador tem direito a três saídas e tem um horário limite para retornar à instituição, muitos realizam trabalhos autônomos, em padarias, como garçom, barbeiro, entre outras atribuições. Os que buscam emprego recebem ajuda na confecção de currículos e também são encaminhados para empresas que já mantêm contato com a casa.
João (nome fantasia) de 34 anos é um dos moradores da instituição Aminc, ele conta que trabalhava como pintor e sofreu um acidente. Atualmente está se recuperando e busca forças para recomeçar, liga toda a semana para os dois filhos de 13 e 14 anos.
“Aqui é uma oportunidade para quem precisa, para retomar a vida, tem todo um tempo para se preparar , se alimentar, descansar, para procurar um emprego”, explica.
Segundo a coordenadora da Aminc, Renata Hasckel, é emocionante quando os integrantes conseguem retomar a vida; muitos alugam casas e retornam para agradecer; outros ,no entanto, acabam saindo da instituição e se desconhece o paradeiro.