Adeus ao Papa Francisco: mundo perde voz de compaixão, paz e coragem

    Pontífice morreu aos 88 anos, no Vaticano. Líder espiritual por 12 anos, Francisco enfrentou crises internas da Igreja, defendeu os pobres e combateu a desigualdade com coragem e simplicidade.

    Foto: Divulgação

    O Papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, na Casa Santa Marta, residência oficial do Vaticano, em Roma. O cardeal Kevin Farrell confirmou a morte às 2h35 (horário de Brasília).

    Francisco enfrentava uma pneumonia dupla desde fevereiro. Por causa disso, passou 37 dias internado. Embora tenha deixado o hospital em março, ele continuava em recuperação. Mesmo assim, apareceu em público neste fim de semana. No sábado (19), foi à Basílica de São Pedro. No domingo de Páscoa (20/04), deu a bênção aos fiéis da varanda, na Praça de São Pedro.

    Durante a celebração, ele acenou para a multidão e transmitiu uma mensagem de paz. Como estava debilitado, o monsenhor Diego Ravelli leu o texto por ele. No discurso, Francisco pediu o fim da corrida armamentista e reforçou a defesa dos mais pobres. “Sem desarmamento verdadeiro, não existe paz”, afirmou.

    Planalto emite Nota de Pesar
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    Logo após o anúncio da morte, o Palácio do Planalto divulgou uma Nota de Pesar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou profundamente a perda do pontífice. Segundo ele, a humanidade perde uma voz de respeito e acolhimento ao próximo.

    “O Papa Francisco viveu e propagou em seu dia a dia o amor, a tolerância e a solidariedade que são a base dos ensinamentos cristãos”, escreveu Lula. Além disso, destacou a forma como o papa levou adiante os princípios de São Francisco de Assis.

    “Buscou de forma incansável levar o amor onde existia o ódio. A união, onde havia a discórdia. E a compreensão de que somos todos iguais, vivendo em uma mesma casa, o nosso planeta, que precisa urgentemente dos nossos cuidados.”

    O presidente também ressaltou a coragem do papa ao trazer para o Vaticano temas como as mudanças climáticas e as críticas aos modelos econômicos que aprofundam a desigualdade. “Sempre se colocou ao lado dos que mais precisam: os pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras e de todas as formas de preconceito.”

    Lula ainda relembrou os encontros com o Papa. “Nas vezes em que eu e Janja fomos abençoados com a oportunidade de encontrar o Papa Francisco e sermos recebidos por ele com muito carinho, pudemos compartilhar nossos ideais de paz, igualdade e justiça. Ideais de que o mundo sempre precisou. E sempre precisará.”

    Por fim, o presidente decretou luto oficial de sete dias no Brasil. “O Santo Padre se vai, mas suas mensagens seguirão gravadas em nossos corações.”

    Primeiros anos

    Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Filho de imigrantes italianos, cresceu em um ambiente religioso. Embora tenha se formado em química, escolheu seguir a vida sacerdotal aos 20 anos.

    Em 1969, recebeu a ordenação. Depois disso, assumiu funções cada vez mais importantes. Em 1992, virou bispo auxiliar. Em 1998, tornou-se arcebispo da capital argentina. Posteriormente, em 2001, João Paulo II o nomeou cardeal.

    A eleição como Papa aconteceu em 13 de março de 2013, após a renúncia de Bento XVI. Francisco se tornou o primeiro pontífice latino-americano da história. Além disso, escolheu o nome inspirado em São Francisco de Assis, símbolo da humildade e do cuidado com os pobres.

    Pontificado com foco em diálogo e reformas

    Desde o início do papado, Francisco adotou uma postura diferente de seus antecessores. Ele dispensou luxos, aproximou-se dos fiéis e defendeu causas sociais. Por isso, ganhou respeito dentro e fora da Igreja.

    Além disso, enfrentou temas delicados com coragem. Em 2023, por exemplo, visitou Portugal e ouviu vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero. Na ocasião, criticou a resposta da Igreja. Dois anos depois, autorizou a entrada de homens gays nos seminários, desde que vivessem em castidade. Para ele, a orientação sexual não deveria ser um impedimento à vocação religiosa.

    Francisco também atuou contra a desigualdade social, defendeu imigrantes e condenou o uso excessivo de armamentos. Apesar das resistências internas, manteve o foco nas reformas da Cúria e nos esforços de modernização.

    Saúde frágil

    Francisco convivia com problemas respiratórios desde a juventude. Ainda jovem, perdeu parte de um dos pulmões. Ao longo dos anos, enfrentou episódios recorrentes de bronquite. Em 2023, ficou hospitalizado por três dias após uma infecção pulmonar. Desde então, as crises se intensificaram, principalmente durante o inverno.

    Além disso, sofria com dores no joelho, o que dificultava a locomoção. Por isso, passou a usar cadeira de rodas com frequência. Em fevereiro de 2025, voltou a ser internado após uma nova crise de bronquite. Dessa vez, no entanto, não conseguiu se recuperar.

    Apesar da piora no estado de saúde, insistiu em se despedir dos fiéis. No domingo de Páscoa, apareceu pela última vez em público. Dois dias depois, morreu em sua residência no Vaticano.

    Legado

    Francisco deixa um legado marcado pela simplicidade, firmeza e compromisso social. Durante 12 anos como líder da Igreja Católica, aproximou-se das minorias, buscou a paz e enfrentou problemas internos com transparência. Além disso, defendeu reformas e abriu espaço para novas discussões dentro da Igreja.

    Portanto, mesmo diante das críticas, consolidou-se como uma das figuras religiosas mais influentes do século. O mundo agora se despede de um papa que optou pela escuta, pelo acolhimento e pela coragem.

     

     

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