Falta água e sobra fogo na Grande Florianópolis

    Estiagem, que passa de quatro meses, e constantes incêndios, com destruição de parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, formam o cenário recente da região

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    Quinto incêndio em menos de um mês castiga o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro nesta sexta-feira (11/10) - Corpo de Bombeiros/Divulgação/CSC

    A chuva necessária não vem, só o fogo. Esse é o cenário recente na Grande Florianópolis, onde a estiagem de 136 dias, ou mais de quatro meses, já secou banhados, pequenos córregos, áreas alagadas e caixas d’água das quatro principais cidades da região. Os maiores sistemas hídricos resistem, porém com mostras claras da ausência de precipitações.

    É o caso da Lagoa do Peri, em Florianópolis, e do Rio Vargem do Braço, em Santo Amaro da Imperatriz, com seus respectivos leitos em grande parte secos, com areia e pedras à mostra. Juntos, esses ecossistemas são responsáveis por abastecer a maior parte da população de Florianópolis, São José e Palhoça. Só que gradativamente estão retraindo, a exemplo de outras 12 estâncias hidrominerais em todo o estado.

    A Casan, responsável pelo abastecimento, depois de fazer uma obra emergencial de transposição do Rio Cubatão para o Vargem do Braço (ou Pilões), emite alertas e comunicados pelo uso racional da água mais de uma vez por semana desde o início da estiagem, já que a captação de água bruta no Vargem do Braço, principal manancial da Grande Florianópolis, está no momento 55% abaixo de seu volume habitual.

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    Em certa medida isso não tem adiantado. Não é tão difícil encontrar um vizinho ou ver alguém usando água para lavar muros, calçadas e até prédios, ou desperdiçando de alguma forma banal o recurso, à revelia dos céus de brigadeiro e dos pedidos por economia.

    Sem consciência e sem chuvas fortes e constantes a água pode acabar. Mas a manutenção dos recursos hídricos e da disponibilidade à população da Grande Florianópolis têm uma relação muito íntima com as causas ecológicas. Tanto a Lagoa do Peri, quanto o Rio Vargem do Braço são volumes robustos de água porque estão inseridos em parques, que preservam a natureza no entorno e mantêm um circuito de águas constantes e de qualidade. Ou seja, preservar a mata nativa está umbilicalmente ligado à água de nossas torneiras.

    Os incêndios na Grande Florianópolis

    Só que ultimamente o fogo tem tomado o lugar da água em alguns pontos vulneráveis. Nessa sexta-feira (11/10), equipes combatem o quinto incêndio em um mês no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Os incêndios são provocados e criminosos, uma vez que não há condições para ocorrências naturais. Com a estiagem, as queimadas ganham facilmente grandes proporções.

    Há também o fator pinus, no qual os pinheiros exóticos são triplamente desfavoráveis: suas folhas impedem a regeneração da natureza, a resina queima e contribui ainda mais nas queimadas e, após essas, o estresse causado à árvore, que não morre, faz com que haja maior produção de sementes e consequentemente mais plantas invasoras com o passar do tempo.

    O incêndio dessa sexta, que ocorre menos de 10h depois do último ter sido extinto, atinge uma área de pinus do parque em Palhoça. Cerca de 3km ao norte, onde a área retomava a exuberância nativa três anos depois de uma grande queimada, dois incêndios com três semanas de hiato consumiram 1.057 hectares do parque, na baixada do Maciambú. Todos criminosos, tanto que o governo do estado empenhou a Polícia Civil e o IGP a determinarem as causas desses crimes ambientais.

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    O Rio Vargem do Braço (Pilões) está com captação 55% reduzida – Casan/Divulgação/CSC

    Os rios Cubatão e Vargem do Braço, ao norte da serra do tabuleiro possuem uma relação indireta com a área queimada da baixada do Maciambú. Isso porque o mecanismo geográfico que abastece os rios é tanto a cadeia de montanhas do Tabuleiro – ou o famoso “gigante do Cambirela”, como bem sabem os manezinhos –, que atua como uma grande esponja, retirando a água da atmosfera e escorrendo-a aos canais, como o invisível lençol freático abaixo do parque, abastecido também pelas chamadas “áreas de recarga” de água, como é a baixada do Maciambú. Lentamente degradadas, representam menos pontos de penetração da superfície para o reservatório subterrâneo.

    Assim, o ano de 2019 tem sido ambientalmente adverso na Grande Florianópolis e o desnível na balança ambiental, em que momentaneamente há mais incêndios do que chuvas, aos poucos mostra que a consciência ambiental é um valor cívico tão importante quanto os demais.

    Lucas Cervenka
    reportagem@correiosc.com.br
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