O que o novo relatório de mudanças climáticas da ONU diz sobre Florianópolis

    Novo relatório do IPCC aponta que mudanças estão cada vez mais rápidas e que é necessário construir políticas de resiliência ambiental

    As mudanças climáticas induzidas pela humanidade estão causando uma “perturbação perigosa e generalizada na natureza”, afetando a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. É o que diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicado nesta segunda-feira (28/2) pela ONU.

    De modo geral o relatório mostra um agravamento no cenário global. O alerta é que o clima está mudando mais rápido do que o previsto, atingindo cada vez pais populações e ecossistemas com menor capacidade de lidar com o aumento das ondas de calor, secas ou inundações.

    Segundo o IPCC, esses fenômenos extremos estão ocorrendo simultaneamente, causando impactos em cascata que são cada vez mais difíceis de gerenciar. Para se adaptar às mudanças climáticas e evitar a crescente perda de vidas, biodiversidade e infraestrutura, ações urgentes são necessárias, relatam os pesquisadores, ao mesmo tempo em que é necessário fazer cortes profundos nas emissões de gases de efeito estufa.

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    O relatório destaca que, nos próximos 20 anos, o planeta enfrentará vários perigos climáticos inevitáveis e até irreversíveis com o aquecimento global médio em 1,5°C. Os riscos são cada vez maiores e terão consequências para infraestruturas e para zonas urbanas costeiras de baixa altitude.

    O Brasil é citado centenas de vezes no relatório, como um país que sofrerá com as grandes mudanças climáticas. Como exemplo, o estado de Santa Catarina é citado como um dos locais que também sofre com as alterações no ambiente. O relatório afirma que o sistema portuário catarinense passou por 76 interrupções de suas atividades nos últimos seis anos por conta de fortes ventanias e ressacas, que provocaram prejuízos entre 25 mil e 50 mil dólares por hora de trabalho parado.

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    Construção de políticas de resiliência

    O relatório não apenas demonstra o estado crítico atual do ambiente, como propõe atuações locais pensando-se nos termos globais. No segmento de governança local, o relatório do IPCC sugere as políticas públicas que deveriam ser adotadas em cidades costeiras, mais vulneráveis, de modo a se aumentar a resiliência climática. Como exemplo de padrões de ocupações urbanas em regiões costeiras, são citadas várias cidades ao redor do mundo, entre elas Florianópolis, que o relatório considera com 1,2 milhão de habitantes – ou seja, a Grande Florianópolis.

    Relatório do IPCC cita Florianópolis como exemplo de cidade costeira vulnerável às mudanças climáticas
    Relatório do IPCC cita Florianópolis como exemplo de cidade costeira vulnerável às mudanças climáticas; – Ricardo Wolffenbüttel/Secom SC/Divulgação/CSC

    Como políticas públicas para serem construídas, sem entrar nas particularidades políticas e partidárias de cada cidade tomada como exemplo de ocupação litorânea, o relatório afirma quais são os desafios e pontos críticos para lidar com o risco de perigo costeiro, reforçando que os riscos das mudanças climáticas são vários e complexos e, assim, não estão atrelados a soluções simples.

    Sobre Florianópolis, e a região metropolitana, o IPCC considera que o primeiro desafio é a capacidade de governo de manter em longo prazo os esforços em construir a resiliência climática. Isso poderia ocorrer, cita o relatório, através de construção de um centro de conhecimento que seja referência para o assunto. “Usar abordagens flexíveis para construir resiliência, por exemplo, com agência independente ao lado de órgãos administrativos tradicionais”.

    Em relação à incerteza do tempo em que as mudanças climáticas resultaram em maior impacto na região da capital de SC, o relatório afirma que é preciso evitar o desenvolvimento e ocupação de localidades expostas, ou seja, há um desenvolvimento urbano desregulado em locais que não terão uma adaptação eficaz frente ao clima mais severo e não é possível estimar em quanto tempo as construções nesses locais passarão a sofrer mais com as mudanças. Por isso, avalia o relatório, é preciso usar a janela de tempo entre os grandes eventos climáticos para se construir planos diretores que aumentem a resiliência urbana nas cidades costeiras.

    Em Florianópolis, o relatório afirma que a implementação de medidas efetivas em relação ao clima é “prejudicada por restrições de governança e uma liderança federal fraca”. Na avaliação dos pesquisadores, isso significa que falta um desenvolvimento de ligações entre os níveis de governança para melhorar a coordenação, construir confiança e legitimar as ações políticas continuamente.

    Em resumo, as perspectivas para abordar o risco climático em cidades costeiras típicas em todo o mundo dependem do alcance das escolhas da população e as práticas de governança sobre a vulnerabilidade social. Os principais desafios de governança não são exclusivos das pessoas que ocupam cargos eletivos, tampouco.

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    O relatório aponta, por fim, que as cidades costeiras são mais capazes de abordar esses desafios quando as autoridades trabalham com comunidades locais e grupos vulneráveis para traçar caminhos de adaptação que permitam redução à exposição e vulnerabilidade das pessoas em maior risco.

    Segundo o presidente do IPCC, Hoesung Lee, “este relatório traz um sério alerta sobre as consequências da inação”, uma vez que mostra que as mudanças climáticas são uma “ameaça cada vez mais séria ao nosso bem-estar e à saúde do planeta”.

    Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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