Dona Alcina, última representante das lavadeiras da Carioca, falece aos 104 anos

Alcina Júlia da Conceição, mais conhecida como Dona Alcina ou Dona Baí, faleceu nesta sexta-feira (11/2) aos 104 anos. Ela era reconhecida como a última lavadeira a ter trabalhado no Beco da Carioca, local do Centro Histórico de São José.

Dona Alcina (ou Dona Baí, para os antigos do Centro Histórico) faleceu próximo aos 105 anos – Divulgação/CSC

Em 27 de fevereiro Dona Alcina, que era muito lúcida, completaria 105 anos. Em seu centenário, em 2018, a prefeitura reinaugurou a revitalização do Beco da Carioca, ocasião em que o Correio a entrevistou.

O Beco da Carioca é um dos elementos que fizeram do distrito sede o berço de São José, bairro que hoje leva o nome de Centro Histórico. Na “carioca”, que é abastecida por um pequeno riacho – bastante poluído atualmente –, as lavadeiras, como Dona Alcina, passavam do dia esfregando as roupas dos patrões para entregá-las limpas e branquinhas, como ela mesmo contava. As músicas cantaroladas pelas próprias nesse labor era um elemento central de motivação. Dona Alcina gostava de relembrar algumas canções.

Publicidade

Uma das técnicas para lavar as roupas era utilizar água quente. As lavadeiras catavam lenha no entorno, faziam uma fogueira, esquentavam a água em uma tina e utilizavam-na para facilitar a limpeza das roupas. Depois, enchendo o grande tanque do beco, faziam o enxágue e penduravam em cordas estiradas em volta.

Dona Alcina, descente de pessoas escravizadas, trabalhou no Beco da Carioca desde muito cedo, na adolescência. Depois, ao longo dos anos, com o desuso da força braçal das lavadeiras, passou para outros tipos de emprego, como passadeira, engomadeira, empregada doméstica, dama de leite e até carregadora de água da bica para quem morava pela região e não tinha encanamento em casa – “nunca passei disso”, conta.

Ela teve diversos filhos, netos e bisnetos e ainda morava em uma kitnet no Centro Histórico. Com ela se vai um fragmento da história de São José.

O velório será às 13h na Igreja Senhor dos Passos, na Ponta de Baixo, e o enterro às 16h30, no cemitério de São José.

Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

Publicidade
COMPARTILHAR