Criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul é barrada novamente por países pró-caça

    Foto: Instituto Australis/Divulgação

    O segundo dia da plenária do congresso da Comissão Internacional da Baleia (CIB, ou IWC, em inglês), que ocorre em Florianópolis, começou com a apresentação de uma proposta para criar o Santuário de Baleias no Atlântico Sul. A proposta, que foi discutida em reuniões anteriores da IWC, foi apresentada pelo Governo do Brasil e co-patrocinada pela Argentina, Gabão, África do Sul e Uruguai.

    Mais uma vez, países pró-caça conseguiram barrar a proposta, especialmente Japão, Islândia e Noruega, alegando motivos de cultura e pesquisa. O resultado da votação foi de 39 votos a favor e 25 contra, com 3 abstenções. A maioria de três quartos não foi alcançada e, portanto, a proposta não foi adotada.

    Como representante do Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, destacou que o resultado indica a viabilidade da proposta de criação de um território para proteção de baleias entre a América do Sul e a costa africana. “Mais de 60% de países entendem, como o Brasil, o quanto é importante a criação desse Santuário para mantermos as condições de reprodução das espécies que habitam o Atlântico Sul”, afirmou.

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    Diante disso, o ministro declarou que o País seguirá atuando pela aprovação da proposta. “O Brasil vai continuar propondo e trabalhando em outras reuniões desta Comissão, no próximo ano, para que o Santuário seja, enfim, criado”, explicou Edson Duarte. As ONGs que participaram da reunião expressaram decepção com o resultado.

    O Japão, país com o maior lobby pró-caça, votou contra o projeto, amparado por Islândia, Rússia e Noruega. Em outros congressos, a delegação japonesa pressionou por uma mudança de regras nas reuniões bienais que permitiriam que as decisões fossem tomadas por maioria simples, em vez da atual maioria de três quartos, o que tornou mais fácil para o Japão acabar com uma moratória de 32 anos sobre a caça comercial de baleias e reintroduzir a “caça de baleias sustentável” em todos os oceanos do mundo.

    O Santuário de Baleias do Atlântico Sul

    O Santuário seria um território de proteção desses animais entre os continentes americano e africano, onde a caça seria totalmente proibida. A área destinada seria composta pelas águas do oceano Atlântico, abaixo da linha do Equador, entre as costas da África e da América do Sul, com 20 milhões de quilômetros quadrados.

    A criação do Santuário de Baleias no Atlântico Sul é a principal medida para proteger pelo menos 51 espécies de baleias e golfinhos da caça, dita sustentável ou não. Além da proibição da caça, santuários são áreas onde a pesquisa não-letal e o turismo são encorajados. Estima-se que a observação de baleias gere R$ 6,5 bilhões por ano no mundo e é feita em diversos locais na costa brasileira, onde o litoral catarinense ganha destaque.

    A reunião da CIB ocorre, em Florianópolis, até sexta-feira (14/9), com a participação de delegações de 75 dos 88 países integrantes da Comissão. Criada em 1946, a entidade se reúne, em reunião plenária, a cada dois anos para adotar medidas de proteção desses animais em nível regional e global.

    três homens membros da comissão sentados em bancada com a placa do brasil à frente ouvem fone de ouvido cercado por dezenas de outras pessoas, também membros de bancadas de outros países
    Comitiva brasileira defendeu, na plenária da CIB, criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul – Foto: MMA/Divulgação

    O Brasil juntou-se à CIB em 1974 e aderiu à moratória à caça comercial em 1987, quando proibiu todos os tipos de caça e de molestamento a baleias e outros cetáceos em suas águas territoriais. Em 2008, as águas territoriais brasileiras foram formalmente estabelecidas como santuário de baleias e golfinhos.

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