Somente nesse ano foram verificadas 55 mortes de baleias no litoral catarinense, sendo 24 decorrentes do emalhamento em redes de pesca ilegais. Em todo o Brasil os registros chegam a 166 animais mortos, número que até o final do ano pode atingir uma quantidade próxima da cota anual de caça de baleias pelo Japão, que é de 383. “É um número muito expressivo e precisamos lidar pelo menos com parte do problema, e parte do problema vem da pesca ilegal em área proibida”, diz Marcelo Assumpção Ulyssea, coordenador do Instituto Anjos do Mar Brasil (IAMB).
A informação foi dada em audiência preliminar na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, nesta quarta-feira (22/9). A comissão de pesca e aquicultura aprovou proposta do deputado Felipe Estevão (PSL) para que haja um debate em audiência pública sobre a alta mortandade de baleias e outros animais marinhos protegidos em Santa Catarina e a relação disso com as redes de pesca. O evento ainda não tem data.
Segundo o coordenador do IAMB, organização que atua junto ao Ministério da Defesa em atividade de busca e salvamento, monitoramento embarcado e resgate de animais marinhos, a ideia é “trabalhar principalmente a conscientização da população e que isto leve a uma pesca sustentável”.
Uma medida sugerida seria a substituição, pelos pescadores, das redes fixas por covos e espinheis, equipamentos considerados menos perigosos para os cetáceos, bem como o respeito à distância mínima de 1 milha (1.853 metros) das praias e costões, conforme prevê a legislação estadual. O aumento do monitoramento das malhas de pesca e da fiscalização da atividade pesqueira, que em 80% dos casos acontece no período noturno, também foi sugerido. Como exemplo, ele citou o trabalho realizado entre Piçarras e Bombinhas nos anos 2016 e 2019, por meio do qual foi possível obter a diminuição da quantidade de tartarugas encontradas mortas, de 888 para 562.
“Além do monitoramento e resgate de animais, precisamos ter um aumento da fiscalização nessa faixa costeira de uma milha que a legislação estadual prevê, e também dar alternativas para que esses pescadores possam se adequar à lei e continuar tirando o seu sustento com a atividade.”
120 baleias avistadas em um dia
No início de setembro o Projeto ProFranca fez um sobrevoo de monitoramento da espécie baleia-franca, de Florianópolis até Cidreira, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Ao todo foram registradas 60 pares de mãe e filhote, totalizando 120 baleias-francas.
A maior concentração estava na região da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, principal área de reprodutiva da espécie na região, onde 53 pares de mãe e filhote foram avistados. Na área da APA, as maiores agregações estavam nas enseadas da Guarda-do-Embaú, em Palhoça, e Gamboa, em Garopaba, totalizando 18 pares de mãe e filhote, seguido de Ibiraquera e Ribanceira com 11 pares, e Itapirubá Norte com 10 pares (Imbituba).
Setembro é o Mês da Baleia-Franca, auge do período reprodutivo da espécie, quando um maior número de indivíduos é registrado no litoral sul do Brasil. A baleia-franca é uma espécie ainda ameaçada de extinção no Brasil, e conta com uma população estimada em cerca de 550 indivíduos e uma taxa de crescimento de 4,8% ao ano.
“As baleias-franca se reproduzem em média a cada 3 anos, mas este intervalo pode aumentar após períodos em que há pouca disponibilidade de alimento, então esperávamos pelo menos um número maior que em 2020, quando 43 baleias-franca foram avistadas, e estamos muito felizes com o resultado final, quase o três vezes este número do ano passado, e este e um excelente resultado”, diz a diretora de pesquisa do ProFranca, Karina Groch.
Uma das baleias foi reconhecida e tem até nome, a JDot. Catalogada pela primeira vez na Península Valdés, na Argentina, no Brasil vem sendo registrada desde 1988. Quando avistada no sábado, em Balneário Arroio do Silva, JDot estava com o sétimo filhote registrado no Brasil.
A temporada reprodutiva de 2021 iniciou mais cedo, em 12 de junho. Desde então um grande número de indivíduos foi avistado durante o monitoramento terrestre realizado pelo projeto em 15 pontos de observação ao longo da APA da Baleia Franca. O monitoramento se estende até 30 de novembro.
[Com informações da Alesc e do ProFranca/Australis]