Moradores do Santinho protestam na tentativa de sensibilizar a Casan a fazer alterações no sistema de esgotamento sanitário do bairro.
“Ninguém é contra sistema de esgoto, mas sim da forma como é feito”, diz Rafael Freiter, do Instituto Socioambiental da Praia do Santinho. A comunidade tenta lutar para que a Casan não coloque ao lado de uma lagoa natural uma estação de bombeamento de esgoto, integrante do sistema sanitário em instalação no bairro no norte da ilha de Florianópolis.
Nesse sábado de manhã (30/1), um grupo de moradores fez mais um protesto bem-humorado na entrada do Parque Municipal das Dunas do Santinho contra as instalações de esgoto. Vestidos com a cor verde e alguns com fantasia de jacaré, conversaram com as pessoas que acessam o lado norte da praia para divulgar a reivindicação. Alguns são integrantes do conselho do parque e costumam exigir a preservação da área.
De acordo com Rafael, o problema é que o parque, onde está a “lagoa do jacaré”, será poluído inevitavelmente. “A questão não é se a lagoa do jacaré vai ter derramamento de esgoto da estação elevatória. A questão é quando. A estação tem o princípio de uma caixa d’água, se encher vai escapar pelo ladrão e extravasar. Pedimos que a Casan coloque o sistema de bombeamento em outro terreno que indicamos, com permuta, mas estão irredutíveis”, diz ele.
A luta dos moradores já vem de três anos contra o projeto de esgoto dentro do parque. Ao todo, a Casan pretende instalar três locais de bombeamento no Santinho para a estação de tratamento nos Ingleses. Conforme diz Freiter, a companhia argumenta que os locais sugeridos pelos moradores, com indicação principal de um terreno na entrada de carros do parque, com estacionamento, não dariam conta de captar esgoto de algumas servidões do bairro. “Mas isso não procede, porque indicamos locais com a mesa altura, porque eles querem o local mais baixo da região, que é área alagada do parque. Só que 30 casas mais perto da lagoa e a escola Maria Tomázia Coelho não vão ter tratamento de esgoto mesmo nesse projeto deles”, argumenta. “Achamos um lugar que é mais próximo, que é no mesmo nível, e a ideia é trazer essa estação de tratamento de esgoto mais longe da lagoa pelo princípio da precaução e da prevenção”, finaliza.
Já o presidente da Associação de Pescadores da Canto Sul da Praia dos Ingleses, Rodrigo Amilton dos Santos lembra que a área alagada ajuda a manter o aquífero da região. “Aqui em seis metros já tem uma limpa e gelada. Se vazar esgoto vai cair no riozinho que vai pra Praia do Santinho e entrar no lençol freático e poluir”, alerta Rodrigo. Ele também ressalta que já houve orientação do Ministério Público de Santa Catarina para que a Casan não utilize a área alagada do parque, porém não acataram a recomendação de perícia.
Acidentes poluem
O protesto ganha destaque após uma lagoa de infiltração de estação de tratamento de esgoto, também da Casan, na Lagoa da Conceição romper e causar uma enxurrada que atingiu 35 casas. No evento de segunda-feira (25), irrompido por causa da chuva em excesso, não se tratava de uma estação de bombeamento de esgoto, mas de uma lagoa onde era despejada a água já teoricamente tratada. Porém, com o acidente, o dano ambiental foi inevitável, principalmente na água da laguna, o que alerta para que a companhia passe a considerar os fatores ambientais tanto quanto os técnicos de fluxo de efluentes quando projeta estações de esgoto.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br