Investida contra a cracolândia da fronteira Florianópolis-SJ

    Ação conjunta do MPSC e prefeituras de São José e Florianópolis tentou encaminhar moradores de rua a abrigos ou cidades de origem, mas ninguém aceitou

    Foto em baixo do viaduto mostrando agentes de segurança na rua falando com usuários de drogas; ao fundo funcionários limpam e jogam lixo em caminhão
    Av. Jousé di Bernardi, sobre o viaduto da via expressa, limite entre os municípios, é um local crítico de concentração de usários de crack - Foto: Lucas Cervenka/CSC

    A Avenida Josué di Bernardi no ponto que divide São José e Florianópolis sobre o viaduto da Via Expressa é um local conhecido pela concentração de lixo e usuários de drogas, configurando uma “cracolândia”. A qualquer hora do dia são dezenas de pessoas em situação de rua ocupando o local para consumir crack e álcool no meio de entulhos e materiais descartados.

    O Ministério Público de Santa Catarina, através das promotorias de Direitos Humanos e Cidadania das comarcas de São José e Florianópolis (11ª e 30ª, respectivamente) realizou nesta quinta-feira (26/4) ação conjunta com as prefeituras de cada cidade, para combater o problema.

    Fizeram parte as secretarias de Assistência Social, Segurança e Saúde de São José e Florianópolis, Secretaria do Continente, Guardas municipais, Instituto Geral de Perícias, polícias Civil e Militar e Comcap, que recolheu todo o lixo espalhado no entorno do viaduto. A ação desta quinta ocorreu do lado de Florianópolis, onde estava a maioria das pessoas e do lixo.

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    A integração de todos os órgãos é fruto do recém-criado Grupo Permanente em Defesa das Pessoas em Situação de Rua de Florianópolis, que visa resgatar a dignidade das pessoas desse universo de situação de vulnerabilidade social.

    35 pessoas abordadas

    No balanço da operação, foram 35 pessoas abordadas. Nenhuma aceitou internação em clínica de reabilitação ou ir para um abrigo social. A todas foi oferecida assistência médica, em que duas apresentaram teste positivo para sífilis. Haviam também duas mulheres grávidas, que foram encaminhadas para atendimento pré-natal em hospital. Já a Comcap contabilizou seis toneladas de lixo retiradas do local.

    técnicos do igp de costas para a foto atendem moradores de rua em frente a uma pequena mesa sob o viaduto
    Instituto Geral de Perícias fez identificação de pessoas em situação de rua; 90% são de cidades distantes – Foto: Lucas Cervenka/CSC
    Objetivo dos promotores

    Os titulares responsáveis pelas promotorias de justiça Daniel Paladino (30ª PJ da Capital) e Sandro Ricardo de Souza (11ª PJ de São José) estiveram no local para acompanhar o trabalho.

    “Já foi realizada uma operação desse tipo no ano passado. A situação se acalmou durante quatro meses, porém, através de denúncias de moradores e comerciantes das imediações, nós voltamos novamente ao local e vamos tornar essa uma operação permanente ”, disse Daniel Paladino. O promotor também informou que engenheiros do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre) participaram da operação para avaliar as possibilidades de fechar as galerias pluviais e espaços sob o viaduto usados pelos caqueiros.

    Sandro Ricardo de Souza afirmou que o objetivo era também identificar as pessoas para que pudessem ser trazidas aos serviços municipais de assistência. “É um trabalho difícil principalmente por causa da caridade que eles recebem nas ruas, com pessoas fazendo doações de alimentos e roupas, o que ajuda a manter essa situação”, disse o promotor de São José.

    Trabalho das Secretarias

    A secretária de Assistência Social de São José, Rose Bartucheski, afirma que o Centro Pop, no Roçado, conta com todas as refeições diárias para acolher as pessoas em situação de rua. “A abordagem de rua orienta as pessoas a irem pra lá ou, se quiserem, a voltar à cidade de origem, já que 90% é de fora”, diz a secretária. Outro dado que ela aponta é que cerca de 95% das pessoas em situação de rua que povoam da Av. Josué di Bernardi são usuárias de drogas.

    Já o secretário do Continente, Edinho Lemos, afirmou que os estabelecimentos da região que compram materiais recicláveis passam por constante fiscalização. “Fizemos um trabalho recente em cima das casas que compram ferro velho. Fechamos várias aqui no Monte Cristo. A gente não proíbe as atividades, desde que sejam legalizados. Então os produtos de furto às vezes vão pra esses ferros-velhos. A secretaria faz blitz periódicas com o apoio da Comcap para recolher materiais e damos um prazo de 30 dias pra regularização”, disse Edinho.

    às margens de uma rua funcionário da comcap empurra uma montanha de lixo para que um braço mecânico de um caminhão possa pegar, estacionado ao lado
    Segundo a Comcap, foram retiradas seis toneladas de lixo da área de Florianópolis nesta quinta (26/4) – Foto: Lucas Cervenka/CSC

    F.A.B., morador e comerciante da região há 30 anos que não quis se identificar, diz que falta vontade política: “Precisa controlar os catadores de lixo e as pessoas que circulam fazendo fogueiras ao lado da Via Expressa. Depois vendem o que roubaram em estabelecimentos abertos 24h por dia dentro da favela. Eles também defecam e transam em qualquer lugar à luz do dia. Há muito tempo que estou reclamando. Essa ação tem que ser o tempo todo”, disse o comerciante.

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