Quando alguém pergunta ao técnico agrícola Ronivandro Edson Piccini, o Roni, o que ele acha do lugar onde vive e trabalha, a resposta surge rápida e entusiasmada, quase profética: “Isso aqui é um gigante adormecido”, assegura o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Luiz Alves, no Vale do Itajaí. A força capaz de despertar o gigante ao qual ele se refere é a IG (Indicação Geográfica) pleiteada para a banana caturra e a cachaça artesanal produzidas no município.
Desde o ano passado, em conjunto com a prefeitura local, empresários e diversos órgãos – entre eles a Epagri –, o Sebrae-SC vem organizando os projetos da identificação geográfica (IG) da banana e da cachaça. O órgão estrutura os dossiês das IGs para encaminhamento ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) responsável pela concessão do selo. Cada processo precisa caracterizar o produto na cadeia produtiva bem como os atores e os elementos considerados importantes para o seu reconhecimento, informa Alan David Claumann, coordenador para projetos de IG do Sebrae
Com pouco mais de 12 mil habitantes, jeito de cidadezinha do interior, solo drenado por uma profusão de riachos e detentor de grandes áreas de Mata Atlântica, Luiz Alves tem na produção da banana caturra e da cachaça artesanal os carros-chefes de sua economia.
A bananicultura envolve diretamente em torno de 20% da população. São 400 pequenas propriedades rurais, mais de 4 mil hectares cultivados e 300 casas de embalagem (packing house). E como os cachos podem ser colhidos o ano todo, há uma estimativa de que o setor seja o responsável pela circulação diária de 17 carretas pela cidade. Carregadas com caixas de banana verde, elas seguem para o Uruguai, Argentina e 11 estados brasileiros entre os quais destaca-se São Paulo, para onde vai quase 22% da produção.
Registrando uma produtividade de 31 toneladas por hectare, o dobro da média catarinense, a atividade chama a atenção também pela participação dos jovens, o que acaba se transformando numa receita de combate ao êxodo rural. Que o diga a família de Paulo Schappo, do bairro Canoas, cujo avô iniciou o cultivo da fruta em Luiz Alves.
Aos 17 anos de idade e tendo concluído o ensino médio em 2018, o caçula de Paulo, Roger Schappo, quer estudar para se manter na zona rural e na bananicultura. Depositando muita esperança nas mudanças que a IG deverá trazer, planeja ser técnico agrícola e depois engenheiro agrônomo.
De acordo com Andrei, 22 anos, filho mais velho de Paulo e braço direito do pai, uma dessas mudanças deveria ser a desburocratização do processo de constituição de agroindústrias da banana.
– Já pensei em criar uma empresa de passa de banana. Mas há muitas dificuldades para fazer isso. Tem que ser longe do rio, longe da estrada, fora a burocracia – queixa-se o jovem.
From Brazil
Para o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Luiz Alves, a IG da cachaça dará visibilidade a um produto que pode ser consumido em alambiques situados a 30 minutos de carro do aeroporto de Navegantes, a 30 minutos dos portos de Itajaí e de Navegantes e a uma hora e meia de Curitiba. Os nove produtores de cachaça artesanal e licores locais estão concentrados num percurso de 25 quilômetros de rodovia.
A cidade é conhecida como a “Terra da Cachaça”, devido aos seus produtos de qualidade reconhecidos nacional e internacionalmente. As cachaças luizalvenses são constantemente premiadas em concursos importantes, como a Expocachaça, vitrine mundial da cadeia produtiva e de valor da cachaça, e no Concurso Mundial de Bruxelas.
Santa Catarina já possui duas indicações geográficas: os vinhos da uva Goethe (2012) e a banana de Corupá (2018). Além das IGs banana e da cachaça de Luiz Alves, o Estado está envolvido com outras seis indicações, totalizando oito processos. São elas a IG da maçã Fugi, de São Joaquim e municípios vizinhos; a IG dos vinhos de altitude, da serra catarinense; a IG do mel de melato de bracatinga, que abrange 102 municípios (45,3 % do território de Santa Catarina) localizados no Planalto Sul brasileiro; a IG da linguiça Blumenau; a IG das ostras de Florianópolis e a IG do camarão de Laguna.
Por Imara Stallbaum